sábado, 23 de março de 2013

Miojo também é cultura



A palavra miojo, alçada ao estrelato da semana pelo caso ridículo da redação do Enem, não aparece nos dicionários brasileiros, mas talvez devesse. Introduzida no mercado nacional em 1965, a marca Miojo ficou tão conhecida que já virou ou tenta virar substantivo comum, sinônimo de macarrão japonês instantâneo – em processo análogo ao de marcas como Chiclet, Xerox, Gillette e outras.
Curiosamente, o próprio ramo brasileiro do grupo – a Nissin-Ajinomoto, instalada desde 1981 em Ibiúna (SP) – já não usa a marca Miojo com destaque nas embalagens do produto, hoje chamado de Nissin Lámen, cabendo ao termo Miojo uma discreta menção em letras menores. O que pode ter a ver com o fato de a palavra ter caído na boca do povo de tal forma que começou a inspirar rimas pouco lisonjeiras como “que nojo”.
De todo modo, Miojo não é uma marca de alcance mundial. Chamava-se Chikin Ramen o pacotinho de noodles pré-cozidos com sabor de frango que foi o primeiro produto de sucesso de massa criado pelo japonês Momofuku Ando em 1958, dez anos após fundar a empresa no cenário de carestia deixado pelo pós-guerra em seu país. Nos Estados Unidos, onde abriu uma subsidiária em 1970, a Nissin Foods passou a comercializar o produto como Top Ramen, o mesmo nome que tem na Alemanha e em outros países.
No Brasil, optou-se inicialmente pelo nome Miojo e pelo complemento “lámen”, prato preparado com noodles – que vai diretamente à fonte do chinês la mian em vez de recorrer à versão japonesa da palavra, ramen, que prevaleceu nos EUA e na Europa.
O produto de maior sucesso internacional da empresa não é mais o ramen/lámen/miojo que inspirou o estudante do Enem (provavelmente faminto), mas o Cup Noodles, criado pelo mesmo Ando em 1971 e, no Brasil, importado da Nissin americana.

Fonte: Revista Veja

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